Ó doutor, assim não!

Quando me dizem que a costureira vem cá a casa, não estou à espera de grande coisa.
Quando me explicam que é para mim, porque as calças têm que estar perfeitas para a festa, continuo à espera de pouca coisa.
Quando a Conceição chega, a coisa muda de figura.
Quando ela se ajoelha à minha frente, de fita métrica em riste e mamas que nunca mais acabam, o coiso anima-se.
Quando ela saca dos alfinetes, o coiso acalma-se.

[Já devem ter percebido: o coiso tem vida própria. Seria provavelmente o melhor aluno de um centro hípico: ora a trote, ora a galope.]


- Que idade tem Conceição?
- Isso não se pergunta a uma senhora.
- Estou só a aproveitar que está a tirar-me as medidas...
- [sorriso] 55. Tenho uma filha de 22 e é igual a mim quando eu era nova.
- Igual? Os rapazes todos atrás dela, não?
- Ó doutor, assim coro.

Aquele "ó doutor" despertou o sacana que há em mim.
A Conceição, que não é parva nenhuma, percebeu que havia caralho vivaço bem à sua frente. E parece ter gostado. Isso ou queria certificar-se que tinha tirado as medidas certas. Sacou da fita métrica pela segunda vez, contornou a minha cintura de braços bem abertos e queixo a centímetros da braguilha. Eu fiquei que nem estátua grega, imóvel, estóico, a admirar aquela avantajada prateleira. Ela corava de felicidade com tão volumoso galanteio.
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