Esta mania de cobrar pode ser foda

- A tua filha nunca vem ao aniversário do meu filho.
- Ai sim?
- Todos os anos ela diz que não pode e ele fica triste.
- Não fazia ideia.
- Desde a quarta classe.... Já lá vão três anos.
Era só o que me faltava. Tinha mesmo que justificar os likes e dislikes de uma criança ao telefone? Estaria a ouvir bem? Estava mesmo a cobrar-me pelo que eu não fiz? Ou era só um pretexto? Era gajo para lhe sugerir uma grandessíssima volta ao bilhar grande, mas fui mais perspicaz do que o costume. Respirei fundo, agarrei os colhões pela base e atirei-me àquela cona de mãe, na vã esperança de que seria mais interessante do que ouvir aquela voz de cana rachada. Na verdade, fiquei com vontade de rata assim: irritada. A Sofia, que é uma sacana, estava definitivamente a precisar de uma coça. À canzana.
- É melhor resolvermos isto cara a cara. Tomas café?


A Sofia chegou atrasada, armada em fina. Trazia pernas que nunca mais acabavam, enroscadas nuns collants de lycra preta, pequenos pés que bamboleavam em agulhas a que chamam saltos-altos e o resto do corpo embrulhado num casaco que imitava um felino africano. Parecia feita de cera, cheia de nove horas. Como não sou especialista de moda, imaginava aquela pachacha pingona que um dia pinei a bom pinar.



- Sabes que gosto de ti, mas porque é que a tua filha não gosta do meu filho?
- Vamos esquecer a paixão infantil do teu filho e o teu fel de mamã caprichosa. Estás a meter o nariz onde não és chamada e podias estar a meter a mão entre as pernas.
- Estás doido?
- Olho para ti e só me apetece aviar-te a passarinha, essa rua sem saída, essa puta conassa. Toca-te para mim. Sei que estás mortinha.
- Cabrão!
- Vais armar-te em beata? Adoras estas badalhoquices.
- E as pessoas? Vão perceber...
- Quessafodam!
- O meu marido trabalha mesmo aqui ao lado.
- Quessafoda!! Quero que te venhas à frente desta gente toda! Já deves estar encharcada só de pensar nisso.
- És a minha perdição. Puta de vontade.

Não teve coragem porque senhora que é senhora não se escancha em público. Fugiu com o rabo entre as pernas, café por pagar e olhar de carneiro mal morto. Eu fui pregar para outra freguesia, porque queria aproveitar o embalo. Ainda de pau duro e a caminho do pito mais próximo, recebi uma mensagem da Sofia: "A vir-me. Para ti."
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