uma selfie no comboio


São 23h30. Não consigo dormir. O intercidades para Lisboa é mais lento do que esperava. Tenho um cantil de bourbon no bolso. Talvez ajude. Os corredores do comboio estão vazios e silenciosos. Vou até à carruagem-bar. Apenas lá está uma tipa nova, trigueira, decotadíssima, a ler um livro. Ela sorri. Não sei porque o fez, ainda assim sorrio de volta e sento-me à frente dela. Devemos ser as únicas pessoas acordadas naquele enfado de pouca-terra-pouca-terra que não chega a terra nenhuma.

Ponho o cantil na mesa. Ela alça o sobrolho. Faço-lhe um olá com a mão à espera de pouca coisa. Já percebi que quer provar a minha bebida e para isso não são precisas palavras. Não sei se tem idade suficiente para beber, mas estou-me marimbando. O planeta está a dormir e, como tal, nada é imoral. Ofereço-lhe o cantil e ela dá um gole. Faço o mesmo e consigo provar os lábios dela no gargalo. Provavelmente é só imaginação minha, mas sabe bem.

De repente, somos os melhores amigos. Ela dá umas palmadinhas no lugar ao lado dela. Dou mais um gole e sento-me junto a ela. Passamos imenso tempo sem falar, o que, convenhamos, não faz diferença nenhuma. Aliás, se o fizesse, acho que iria quebrar o feitiço e voltaríamos a estar sozinhos naquele comboio.

Quando pega no telemóvel, suspeito que vai desaparecer. Em vez disso, coloca o aparelho na mesa. Tira o som da coisa e carrega um filme caseiro. Olho para a cara dela e parece-me desinteressante. Mas desinteressante, às 23h30 num comboio aborrecido, é o suficiente para mim. Tenho a certeza que é ela naquele ecrã. Dança, nua, ao som de uma música que não se ouve. A película dura menos de 30 segundos. Ela continua a ignorar-me e mantém os olhos colados ao telefone.

No vídeo seguinte, está de joelhos, novamente nua, com a picha de um gajo qualquer na boca. Não sei se quer que a foda. Aliás, não faço ideia do que lhe passa pela cabeça. Não tem qualquer expressão no rosto. Está vidrada naquele smartphone coreano. Nem sequer nos tocamos. Quando o filme termina, 45 segundos depois de começar, vira-se para mim. Sorri, sobe a saia até à cintura, abre as pernas, mostra as cuequinhas cor-de-salmão e volta a sorrir.

Estou excitado e intrigado. Ligeiramente desconfortável, porque não sei o que fazer. Levo o álcool à boca e dou um jeitinho ao cacete, que, nestas ocasiões, pende sempre para a esquerda. Ela estende a mão. Dou-lhe o cantil, mas não o leva aos lábios.

Coloca-o de lado, alça um pouco mais a saia de ganga e estende de novo a mão. Talvez queira que lhe coloque o caralho ali mesmo. Na palminha.


Questiono-a com o olhar. Ela faz o sinal de telefone, com o polegar na orelha e o mindinho na boca. O meu?, pergunto-lhe, com o indicador apoiado no peito. Sim, responde ela, acenando com a cabeça. Estupefacto, passo-lhe o meu móvel, ela tira uma selfie, devolve-me o telefone, fecha o livro, levanta-se e sopra-me um beijo.
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2 comentários:

  1. Existem homens com sorte ou simplesmente viagens deliciosas de um homem atrevido?
    .
    * Delírios de Amor e Sexo *
    .
    Deixando um abraço

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